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terça-feira, 26 de julho de 2011

O barco e o navio


Um barco e um navio se cruzam no oceano.
O navio é grande, imponente, luxuoso, movido por motores potentes.
O barco é menor e parece frágil com suas velas infladas pelo vento.
No navio, passageiros divertem-se em jogos de luxo. No barco, tripulantes trabalham para manter-se em curso.
Um barco e um navio...
Um segue roteiro pré-traçado por agências de turismo. O outro segue roteiro pré-traçado pela aventura.
Ambos seguem rotas calculadas pelas estrelas, sextantes, navegadores por satélites...
Singram os mares. Cada qual com seu destino.
No navio, mulheres cobertas de jóias apostam o destino junto aos homens de smoking que disputam a sorte na mesa de jogo. Outros disputam uma vaga na mesa do comandante na hora do jantar.
No barco, pescadores? Quem sabe, esportistas? Talvez. Gente que aposta seu próprio destino no vai e vem das ondas e promete: Se escapar vivo da aventura, escreve um livro. O navio cheira a segurança... O barco cheira a aventura...
As ondas balançam as duas embarcações com intensidade diferente.
Do alto de sua imponência de cidade flutuante, o navio segue blasé e indiferente aos humores dos filhos de Netuno. Mas, ele próprio não se aventura a deixar as rotas pré-traçadas e buscar o novo.
O barco, por menor que pareça, sobe e desce na crista das ondas. Como se fosse a própria vida tem altos, baixos, pende pra esquerda ou para a direita. Dança ao sabor do vento. Tenta ficar na rota, mas sabe que pode precisar mudar o rumo. Quem sabe buscar outras paragens, com águas tranqüilas... As águas com as quais todo navegante sonha.
O barco cheira a poesia, dizem os sensíveis.
Ninguém faria uma poesia em homenagem a um transatlântico. Mas, já fizeram filmes, mostrando que os transatlânticos naufragam como gigantes que caem quando alguém lhes corta o pé de feijão.
Um barco e um navio cruzam-se no oceano... Um apita para o outro.
O barco admira a imponência do irmão maior.
O navio aplaude o espírito de aventura do irmão menor.
Um apita para o outro. Olham-se de longe e seguem seus próprios destinos...
Levar turistas a procura de romances.
Pescar. Correr regatas. Aventura.
As ondas são as mesmas.
A lei do oceano é outra...

Fatima Dannemann

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