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quarta-feira, 18 de maio de 2011

O ferreiro


Era uma vez um ferreiro que, após uma juventude cheia de excessos,
resolveu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos trabalhou com
afinidade, praticou a caridade, mas, apesar de toda sua dedicação, nada
parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e
dívidas acumulavam-se cada vez mais.
Uma bela tarde, um amigo que o visitara -- e que se compadecia de sua
situação difícil -- comentou: 'É realmente estranho que, justamente
depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida
começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda a
sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado .
O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso
muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida.
Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar
e terminou encontrando a explicação que procurava. Eis o que disse o
ferreiro: Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso
transformá-lo em espadas. Você sabe como isto é feito? Primeiro eu
aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que fique vermelha. Em
seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico
golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo, ela é mergulhada
num balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do
vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de
temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada
perfeita: uma vez apenas não é suficiente .
O ferreiro deu uma longa pausa, acendeu um cigarro e continuou: `As
vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue agüentar esse
tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo
de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de
espada. Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você
viu na entrada de minha ferraria.
Mais uma pausa e o ferreiro concluiu: Sei que Deus está me colocando no
fogo das aflições. Tenho aceito as marteladas que a vida me dá, e às
vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço.
Mas a única coisa que peço é: 'Meu Deus, não desista, até que eu consiga
tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar
melhor, pelo tempo que quiser -- mas jamais me coloque no monte de
ferro-velho das almas' .

(Lynell Waterman - por Paulo Coelho)

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