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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Latinha de leite


Dois irmãos, moradores da favela, desceram o morro para pedir comida nas casas da rua mais próxima.
Estavam famintos.
- Vai trabalhar e não amole, foi o que ouviram através da porta fechada da primeira casa.
- Aqui não há nada, moleque! Disseram na segunda.
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças...
Por fim, uma senhora caridosa disse-lhes:
- Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... coitadinhos!
Ela voltou com uma latinha com leite.
Que festa! Ambos sentaram na calçada.
- Você primeiro, porque é o mais velho... disse o menorzinho com os olhos na latinha, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
O mais velho levou a lata à boca e fingiu beber. Depois estendeu a lata ao irmão, dizendo:
- Agora é sua vez, mas só um pouco...
E o irmãozinho, dando um grande gole, exclamou:
- Como está gostoso!
- Agora eu, disse o mais velho. E, novamente, apenas fingiu que bebia.
E assim continuou o “Agora você, Agora eu, Agora você, Agora eu...”
Finalmente, o menorzinho, barrigudinho, esgotou o leite todo... sozinho.
Então o mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite.
Estava radiante! O estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria.
Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.
Aquele moleque nos proporciona uma grande lição:
quem dá é mais feliz do que quem recebe.
É assim que devemos amar...
Com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discrição, que o outro nem sequer perceba o nosso gesto de amor.

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