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domingo, 19 de setembro de 2010

Confiança

QUANDO A SABEDORIA ILUMINA A ALMA
Certo dia, Jesus decidiu partir para a Galiléia.
Encontrou Filipe e disse-lhe:
"Siga-me. Venha comigo para a Galiléia."
Ora, Filipe era de Betsaida e, nesta cidade, tinha amigos
Que se chamavam
André, Pedro e Natanael.
Filipe foi procurar Natanael
E, quando o encontrou, falou-lhe assim:
"Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei
E também os Profetas.
Chama-se Jesus.
Talvez você o conheça.
Ele é filho de José e de Maria, que é de Nazaré na Galiléia."
Ao que Natanael respondeu:
"De Nazaré? Por acaso de Nazaré pode sair coisa boa?"
Filipe respondeu apenas: "Venha, você verá."
Logo que Jesus viu Natanael descendo uma vereda em direção a ele,
Falou abertamente e em voz alta:
"Este que está vindo ali é um israelita verdadeiro, sem falsidade."
Natanael, ao ouvir isto, perguntou a Jesus:
"De onde me conheces?"
Jesus só lhe respondeu: vi você debaixo da sua figueira."
A isto Natanael respondeu:
"Mestre, rabi, tu és o Filho de Deus,
Tu és o rei de Israel!
Tu és Aquele por quem eu estava esperando!"
Jesus respondeu:
'Você está acreditando só porque eu lhe disse:
Vi você debaixo da sua figueira?
No entanto, você ainda verá coisas maiores do que estas!"

A contemplação pode ser um método de terapia. Ela nos convoca para um mergulho na confiança enquanto concentramos nossa atenção neste meio de recuperar a criança que ainda se encontra em nosso íntimo, pois ela nos oferece oportunidade de nos encontrarmos com nossos mais íntimos arquétipos. A terapia da contemplação nos permite localizar aqueles depósitos de energia que existem bem no fundo da nossa mente. São centros de energia que nos convidam a vivências de confiança ja-mais conhecidas antes e esta descoberta consciente nos enche com uma sensação de bem-estar.
A terapia da contemplação é uma forma de medita¬ção. Enquanto meditamos, nossas imaginações também poderão ajudar na descoberta dos arquétipos que existem no santuário da nossa alma. Na terapia da contemplação a espécie de árvore que você está descobrindo é mesmo a sua árvore. Ao invés de estarmos nós ditando essa vivência, continuamos abertos para qualquer desco¬berta que Deus, nossa Força Superior, nos quiser mani¬festar. Ademais, a maneira com que circulamos pelo san-tuário da nossa alma está exclusivamente em nossas mãos.
A terapia da contemplação, ao invés, convida o ego a confiar, deixando a Deus o cuidado de nos orientar e nos revelar a verdade, aquela verdade que nos libertará. Na terapia da contemplação, estamos confiantes de que conseguire¬mos passar esses poucos minutos seguintes e de que con¬seguiremos nos deixar conquistar por este Único cujo nome adicionamos à nossa respiração, no intuito de en¬xergarmos devidamente o que precisamos aprender.
No salmo 139, o contemplativo que o escreveu sabe que "mesmo as trevas não são trevas para ti, e a noite é clara como o dia. Mesmo lá é tua mão que me conduz e tua mão direita me sustenta. Vê se não ando por um caminho fatal e conduze-me pelo caminho eterno." Você, também, poderá descobrir isto durante a sua contemplação indivi¬dual. Se tudo o que enxergar dentro de você for trevas, não fique desanimado por causa dessa escuridão. A santa padroeira da meditação é Teresa de Ávila. Durante de¬zoito longos anos, ela continuou meditando na escuridão do santuário da sua alma. Ela denomina isto de vivência do Nada: nada, senão a presença de Deus que está nos mostrando à verdade, com uma sensação de bem-estar. O ego é a parte do nosso ser que está sendo focaliza¬da durante a meditação. No âmbito interno, o ego é o nosso guia interior que nos mantém seguros e sadios tanto in¬ternamente como externamente. O ego possui grande capacidade de orientar a nossa vida e escolher comporta¬mentos. O nosso ego é capaz de observar, julgar, escolher e armazenar conhecimentos para, depois, refletir sobre eles e se lembrar deles. O ego possui a capacidade de per¬mitir ou não permitir que nossos sentimentos e recorda¬ções se tornem conscientes durante as nossas atividades cotidianas. O ego pode ser magnífico patrimônio; mas, também, terrível juiz! E capaz de julgar, comparar e cri¬ticar nossas vivências conscientes. O ego possui muitas qualidades boas; a única coisa, entretanto, que ele não consegue é nos curar! O inconsciente é um campo de base.
O ser humano possui uma sabedoria no seu inti¬mo. Não importa se jovem ou velho, não importa se muito ou pouco inteligente, não importa se muito ou pouco tei¬moso, não importa até que ponto é inflexível nas suas fun¬ções, não importa se está se sentindo machucado ou se está bem sadio... A verdade é que todo ser humano possui uma sabedoria no seu íntimo. Pois bem, é confiando na¬quele Nome que associamos à nossa respiração e penetran¬do no santuário da nossa alma que teremos a oportunida¬de de nos encontrarmos com a nossa sabedoria íntima.
As teorias pretendem substituir a escuta, e os conse¬lhos recebidos muitas vezes bloqueiam o interesse pes¬soal. Como orientadora no campo dos arquétipos, a sabe-doria, como autoclínico interior, consegue distinguir, sem errar, o que é melhor para a pessoa orientada pelo ego. Desta forma, todos nós possuímos um recurso infalível capaz de se interpor entre nós e tudo o que não for para nosso maior bem. Este nosso autoclínico interno que nos ensina e cuida de nós é a sabedoria dentro de nós: um arquétipo que bem mereceria ser escutado por nós.
Decidida, mas nunca intrometida, a sabedoria está profundamente consciente do que seria bom para nós, podendo sempre nos oferecer orientações criativas, esclarecedoras e produtivas. A sabedoria é aquele auto-clínico interior que sempre nos acompanhou e sempre esteve do nosso lado desde o início. A sabedoria conhece todo o nosso histórico e tudo o que vivenciamos na infância em questão de mágoas, desilusões, abusos e abandonos.
Os clínicos já descobriram que até mesmo os egos mais estraçalhados, como os que se podem descobrir nos distúrbios de uma personalidade múltipla, vivenciavam uma salutar restauração do bem-estar e da harmonia toda vez que aceitavam conselhos do seu autoclínico interior.
A sabedoria interior, uma vez descoberta, é nossa con¬selheira nas horas de perspicácia e nosso conforto nas horas de aflição. A sabedoria nos oferece profunda confian¬ça, à qual não será fácil resistir. E, para esses adultos-crianças, filhos de famílias disfuncionais ou anômalas, a sabedoria é capaz de oferecer aquela vivência, nunca dan¬tes conhecida, de uma mãe ou um pai santo e sábio. É que a sabedoria contém energias tanto femininas quanto masculinas, podendo ser vivenciada por nós tanto como um guia masculino sábio e sensato quanto como um acon¬chego feminino nutritivo e acolhedor. A sabedoria nos ama e nos quer bem de maneira incondicional e nos aceita assim como somos, sem quaisquer reservas. A sabedoria conhece perfeitamente todos os nossos erros, todas as nossas maneiras de agir e de pensar que nos causam de¬pois arrependimento e remorso. A sabedoria nunca julga os erros de nosso ego, nem reage a eles com punições. A única coisa que a sabedoria deseja é estar sempre ao nos¬so lado, a fim de que realizemos opções sábias, apazigüemos o nosso passado e, no futuro, vivamos sadiamente.
Só que esta sabedoria interior não é Deus. A sabedo¬ria é apenas uma íntima, profunda e abundante dádiva de Deus. Da mesma forma que Deus, a sabedoria nos ama e nos quer bem exatamente do jeito que somos. Como sem¬pre esteve ao nosso lado desde o início, a sabedoria conhece perfeitamente nossos direitos hereditários enquanto fi¬lhinhos do Criador. A sabedoria sabe muito bem que fo¬mos assaltados e machucados à beira do caminho, desejan¬do então restaurar nossos direitos hereditários até que readquiram seu verdadeiro e pleno esplendor. A sabedo¬ria só deseja a cura e a recuperação daquela criança divinal que continuamos trazendo dentro de nós.
Esse arquétipo que é a sabedoria interior não preten¬de substituir a Deus, mas se comunica conosco da mesma maneira que Deus; em outras palavras, essa sabedoria interior nos ama e nos quer bem incondicionalmente. O fato de sermos amados por ela incondicionalmente signifi¬ca que não precisamos fazer nada de especial para sermos estimados e valorizados pela sabedoria interior. Desde o instante em que decidirmos permitir que a sabedoria tome parte ativa em nossas vidas, estaremos começando a viver de padrões mentais e comportamentais completamente diferentes de nossas tendências à mútua dependência.
Tendências à mútua dependência são aqueles com¬portamentos crônicos que não fazem caso algum do ego. Provêm do fato de permitirmos que outras pessoas ou coisas orientem ou controlem as nossas opções. A depen¬dência mútua é capaz de provocar doenças físicas e múl¬tiplos problemas em nossas vidas. Consegue destruir nos¬sas almas, bem como nossa criatividade e espontaneida¬de. A dependência mútua é um abandono do ego que já se tornou crônico. Nós não damos mais atenção às nossas verdadeiras necessidades e julgamos o nosso mérito pes¬soal de acordo com as perspectivas e as reações dos ou¬tros. Dar atenção à sabedoria interior é a antítese direta da dependência mútua.
Parece que os adultos-crianças estão estruturados no sentido de se tornarem dependentes dos outros. E que ficamos enredados com pessoas, lugares, hábitos de tra¬balhar, abusos alimentares e farmacêuticos. Sentindo, então, a falta de alguma pessoa diferente (além dos nos¬sos próprios cuidados pessoais) que cuide de nós, conti¬nuamos ansiando por aquela mãe e/ou pai que nunca es¬tiveram presentes como atendentes adequados no tempo em que ainda éramos pequenos. Essa doentia dependência mútua significa que não possuímos dentro de nós um centro de avaliação. E, de fato, foi isto que aprendemos na nossa infância. Não nos ensinaram a valorizar os nos¬sos próprios celeiros e arsenais interiores.
A sabedoria interior é capaz de conseguir desauto¬rizar aqueles comportamentos que mantinham nosso mérito pessoal atrelado às reações dos outros. A sabedo¬ria reengrena tanto o coração como a mente da pessoa que medita, tornando-se aliada do ego na escolha do que é melhor para nós e substituindo adequadamente todo e qualquer controle compulsivo, que, na realidade, não re¬presenta uma opção. A sabedoria é essencial à nossa cura e recuperação, pois o ego, quando deixado ao seu bel-pra¬zer, perde o carinho necessário para acolher a criança que trazemos dentro de nós, tão necessitada de cura e recu¬peração. O ego, quando separado do arquétipo da sabe¬doria, só deseja perpetuar indefinidamente atitudes mór¬bidas, idéias obsessivas e comportamentos maníacos. Mais tarde, iremos transmitir às próximas gerações a herança de uma ascendência doentia.
O contrário também é verdade: no instante em que o ego se associar à sabedoria, estará iniciando-se o renas¬cimento dramático da criança e começará a se sentir a cura e recuperação da criança que vivia dentro de nós. Na segura e amorosa companhia da nossa sabedoria in¬terior, é menos provável que se dê a desagregação. É que a sabedoria irradia, vem de dentro, afeto, afirmação, acei¬tação, aprovação e estima. Então, no mundo exterior nossa sabia conselheira já pode respirar aliviada! Nós recome¬çamos a realizar sábias opções, a sentir, a confiar e a con¬versar abertamente sobre a nossa nova experiência de vida. Ao invés de medo, nossa reação então é de gratidão.
Carl Jung descreve o encontro com a sabedoria como uma espécie de contato com a energia de Deus, cujas luzes e conselhos facilitam o progresso da nossa consciência pessoal, da nossa dignidade pessoal, bem como nossa ca¬pacidade de sermos generosos. E que a sabedoria nos en¬sina de que maneira podemos amar generosa e apaixona¬damente dentro dos limites da auto-estima. Só que a sabe¬doria, embora parecida com Deus, não é Deus. E a sabedo¬ria também não é o ego autêntico. A sabedoria é apenas sabedoria, sempre conosco desde que começamos a exis¬tir e sempre procurando nos tirar da escuridão para a luz.
Os arquétipos não envelhecem. Eles transmitem pe¬los anos afora, e melhor que qualquer outra linguagem, mensagens de esperança ao coração humano. Quem sabe você já esteja mantendo relacionamento com a sabedoria que mora dentro de você. Você conseguiu chegar ao co¬nhecimento de todas essas verdades, apesar da sua ca¬minhada desde a infância até a fase adulta, cheia de tan¬tas aventuras. É que os adultos-crianças conseguem sem¬pre sobreviver! Enquanto o ego só destrói, a sabedoria é fiel. Talvez você já tenha tido ocasião de identificar esta sua sábia conselheira interior na arte, na poesia ou nas atitudes prudentes e sensatas de outras pessoas. Agora, porém, chegou a hora de você, mais decididamente, en¬trar em contato com a sua sabedoria interior, para o bem dessa criança que você ainda leva dentro de si.
Ó Deus, concede-me serenidade
Para aceitar as coisas que não consigo mudar;
Coragem para modificar as que consigo modificar e sabedoria
Para perceber a diferença entre aquelas e estas;
Vivendo cada dia um depois do outro
Desfrutando cada instante um após o outro;
Enfrentando as angustias como uma passarela para a paz;
Aceitando, como Jesus aceitava este mundo pecador
Assim como ele é
E não como eu gostaria que fosse:
Confiante de que tu farás com que tudo transcorra
Devidamente,
Desde que eu me entregue plenamente à tua vontade,
A fim de que eu possa ser razoavelmente feliz aqui nesta vida
E imensamente feliz lá na outra vida, junto contigo para
Todo o sempre.

(THE SERENITY PRAYER, de Reinhold Niebuhr)

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