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domingo, 19 de setembro de 2010

A ilha


Um velho avião cortava os céus e, lá em baixo, o rio Araguaia, seco, aparecia salpicado de ilhotas.
De repente a pressão do óleo começou a baixar...
E o piloto resolveu pousar no primeiro lugar que aparecesse.
Ele avistou uma ilha de tamanho considerável, imponente, que sobrepujavam todas as outras.
Era o lugar ideal para um pouso.
O piloto conseguiu aterrar e logo consertou o avião, mas antes de reiniciar a viagem resolveu examinar aquele belo lugar, visível apenas na época de seca do rio.
Finalmente ele decolou, levando consigo dez pedrinhas, escolhidas a dedo entre as milhares que cobriam a ilha.
Elas seriam uma recordação daquele lugar fabuloso e, também, um excelente presente para sua filhinha.
O tempo passou e a ilha ficou esquecida, até que um famoso joalheiro, em visita ao piloto, teve sua atenção despertada pelas pedras que serviam de jogo para a menina.
Ao saber da origem delas, informou:
- Pois saiba que estas pedras são preciosas!
E, separando uma menor, preta e brilhante, disse:
- Isto é satélite de diamante; sua filha brinca com uma autêntica fortuna!!!
Não é preciso dizer que a partir de então o piloto foi o mais constante naquela rota; tudo que ele mais queria era reencontrar sua ilha.
Que ironia!O destino havia lhe colocado nas mãos uma fortuna imensa; talvez tenha sido o homem mais rico da terra naquele quarto de hora em que permaneceu na ilha!
Mas aquele tesouro imenso, e a sua ilha, existiam agora apenas na imaginação.
O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar e nunca mais foi possível localizá-lo.
Todos nós, como aquele piloto, encontraremos, se já não encontramos, uma ilha no vôo de nossas vidas.
Ela conterá também um rico garimpo, o garimpo do amor, e talvez seja mais preciosa do que a ilha encontrada no Araguaia.
Como aquele piloto, pousaremos despreocupados, conheceremos a ilha, que poderá ter o nome doce de uma mulher ou poderá denominar-se juventude, ou talvez seja mesmo uma ilha perdida nas praias do noroeste.
Mas, se a ilusão e a ânsia por sensações novas nos fizerem decolar, sem ao menos procurarmos guardar o local onde estivemos ou deixar nele uma placa com os dizeres:
"Esta ilha é minha",
Então levaremos somente algumas pedras preciosas, sob a forma de recordações de um beijo, de um carinho, de um mar verde e do vento apagando na areia os nomes escritos num coração.
E, quando um joalheiro famoso, conhecido como o senhor Tempo, nos disser que perdemos um tesouro...
Voltaremos atrás como aquele piloto, mas será tarde, porque como o Araguaia, o passado terá sepultado a nossa ilha.
Ficarão apenas, como lembranças, algumas pedras:
A saudade de um nome,
De um carinho,
De um dia...

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