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domingo, 24 de outubro de 2010

A filha


Um barulho ressoa na madrugada...
O pai vai ver a filha de seis aninhos.
Abre a porta do quarto devagar e leva um susto.
Nas paredes, pôsteres.
No chão, pares de tênis jogados, camisetas, jeans, revistas e CDs.
No canto, um computador internetado num "teen chat".
Sumiram as bolsinhas, as agendinhas, as bonequinhas, os albunzinhos de figurinhas.
Aproxima-se da cama.
Outro susto.
Dorme ali uma moça. Reconhece-a. É a filha.
A pele lisinha do rosto agora tem espinhas.
As sobrancelhas, o nariz e os lábios estão delineados e fortes. O cabelinho fio reto transformou-se em um repique.
O tórax, antes magricela, abriga agora um par de seios.
O pai desespera-se.
O que está acontecendo? Acha que está louco. Abraça-a forte e começa a pensar.
Por que não brincou mais com ela quando criança?
Por que não a levou mais vezes ao parque, ao clube, ao cinema?
Por que não lhe contou mais historinhas?
O pai sai chorando. Do pranto passa aos gritos. A mãe, com muito custo, o acorda. Atônito, ele corre para o quarto da filha.
Desta vez não há pôsteres, nem tênis, nem jeans, nem revistas, nem CDs.
Estão lá às bonequinhas, os albunzinhos e as agendinhas.
Está lá a filha de seis aninhos.
Abraça-a forte e suspira aliviado, enquanto refaz a agenda da sua vida.
Ainda há tempo...

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