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quinta-feira, 29 de julho de 2010

A favela da alma


Com justa razão, sociólogos, economistas, políticos e cientistas sociais tem se preocupado com a trágica realidade das favelas urbanas. Na verdade, elas são o retrato de uma sociedade desigual e excludente. As favelas urbanas são também a vergonha explicita da nossa iniqüidade social. Tirar o homem da favela será, pois o grande desafio urbano/humanístico deste próximo milênio.
Conquanto seja deplorável ver o homem na favela, também é lamentável constatar o crescimento de uma “favela” no coração do homem. Tirar a favela de dentro do homem será, pois um grande desafio para os terapeutas, teólogos, conselheiros, educadores, em fim, para todos que tem um compromisso com a existência e dignidade humana.
A “favela interior” é o resultado do crescimento de um tipo diferente de pobreza, marcada pela ausência de sentimentos, valores e atitudes nobres, cada vez mais escassos em nossa sociedade materializada. Esta pobreza interior é denunciadora também de um “lixo interior” que o ser humano permite que vá se acumulando pelas esquinas da alma, ao longo da vida.
Pelo menos, três tipos de pobreza interior denunciam a existência de uma “favela” dentro de nós. Primeiro, é a pobreza de espírito, não tomada aqui como uma virtude ressaltada por Jesus Cristo, no Sermão do monte, mas, como um espírito pobre, cuja pobreza se da pelo excesso de egoísmo, maldade, mesquinhez, avareza, arrogância e outros sentimentos desta natureza. Alguém pode ter muito dinheiro, bens ou propriedades, todavia, se possuir em espírito pobre, vive numa grande miséria. São pessoas desprovidas da verdadeira riqueza, que é a riqueza do ser, onde os sentimentos, valores e atitudes nobres constituem o maior patrimônio.
Uma segunda pobreza interior que denuncia a favela que habita em nos, é a pobreza espiritual. É o coração humano vazio de fé, esperança, em fim, vazio de deus. A ausência de Deus no ser humano empobrece a sua vida. A fé é de um valor imensurável e enriquece a existência na medida em que liberta a vida dos limites da matéria, abrindo as cortinas do infinito e do sobrenatural. “tudo é possível ao que crê”.
Por fim, a “favela” que existe dentro do homem é fruto também da pobreza afetiva provocada pela falta de amor. Quem não ama vive mergulhado numa verdadeira miséria existencial, desprovido de tudo que dignifica e enobrece a vida. Ate a religião sem amor se transforma em fanatismo e radicalismo. O amor produz a compaixão, o perdão e a solidariedade. O amor enriquece a vida.
Esforçar-se para tirar o homem da favela e tirar do seu caminho o lixo que a sociedade produz é uma tarefa tão nobre quanto urgente. Todavia, é também urgente e igualmente nobre, o esforço para retirar a “favela” de dento do homem, e limpar a sua alma do lixo produzido pelos sentimentos mesquinhos e pela ausência de Deus. A verdadeira riqueza é a presença de deus em nos.

Estêvam Fernandes de Oliveira

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